terça-feira, 6 de julho de 2010

Broken


Relações partidas, caminhos, enfim, divididos. Depois de muito compartilhar, conviver, repartir, vem em um dia e acontece: a separação, o fim de uma relação, o acabou, e só. Nada premeditado, é bem verdade, mas bastante previsível. Os dias em que se ficou distante, as novas relações não compartilhadas tratam de, sorrateiramente dividir o que antes era unido, quebrar o que parecia ser estável. Chega o momento em que os caminhos se separam, cada um segue sua própria estrada. Bobagem querer mudar isso. Melhor deixar seguir rio, que as águas corram sem desvio de direção.

Parece que só sobre isso escrevo: separação, partida, despedida. Talvez apenas isso tenha me inspirado suficientemente, ou a ideia de não mais estar junto evoque algo mais forte que o romantismo de quando tudo vai bem.

Desde cedo aprendi a ficar só. Não que minha família me ignorasse, ou que fosse depressivo a ponto de evitar as pessoas. Apenas preferia fazer as coisas a meu modo, sem intervenções indesejadas, oposições desnecessárias. Sob a justificativa de que ser independente, era mais eu do que qualquer um. Cresci entre meus livros, vaguei sem companhia por meus devaneios. Filosofia máxima?! Antes só que mal acompanhado. Verdadeiramente não me importava com isso, estava bem daquele modo. Acho que me bastava.

As coisas mudam, porém. A gente vai envelhecendo (alguém preferiria amadurecendo) e o jeito de viver vai mudando. Passei a querer ter amigos, ser cercado de pessoas, ser tido como companhia desejável. Nem sei se consegui tanto, mas em muito minha maneira de conviver se transformou. Tateando entre perdas e ganhos compreendi que dividir as dores pode ser bom, e que compartilhar as alegrias melhor ainda. Estar junto, desejando estar exatamente daquela maneira, é algo que me faz sentir pleno. A vida fica melhor, assim. Os fardos se tornam menos pesados quando há alguém para ajudar.

Não deixei, de todo, contudo, meu lado solitário. O que em mim se habitou ao vento frio dos tempos em que estive só, hoje me seduz, recorrentemente, para a quebra de tudo aquilo que chegou ao estável. É como se nada em mim aceitasse a estabilidade. Há um algo cá dentro que anseia pelo não previsto, pela cena ocorrida no tempo prorrogado. Não suporto as rotinas, não consigo respeitar os horários, detesto seguir as receitas. Do mesmo modo não consigo permanecer em uma relação da qual saiba exatamente o que esperar. É fatal, sei, mas quando a procura das intenções acaba, há, de fato, a relação a se partir. Quando a insegurança gerada pelo desconhecido se desfaz não há porque continuar. Se o mistério se perde, acaba com isso o jogo. O outro, para mim, em uma relação, deve ser sempre uma caixa de surpresas. Surgirá daí, a fidelidade, a confiança, quem sabe até amor.

Por mais que, um dia, os laço se rompam, acredito que vale muito tê-los construído. São vitais, até. Entendi, depois de alguns dias que as mãos que um dia estiveram cheias nunca ficam completamente vazias. Sempre fica um algo depois da partida. As vezes propositalmente, outras apenas porque o tal algo por tanto tempo foi compartilhado que não pode ir com seu original dono: se partiu, metade foi, a outra ficou.

Hoje algumas relações se partiram, em mim. Uma foi assim, de uma só vez. Por mais que já pressentisse, me assustei. A outra mandou aviso ao longo dos meses, foi se partindo de fio em fio. Talvez até restem alguns...

Não há tristeza, aqui. Apenas a certeza de que, com alguns, cheguei a um fim. Há espaço, agora, para coisas novas, pessoas novas. Alguém se candidata?!