Tenho sido só saudades nesses dias. Aquela música, um certo perfume, os lugares que me fazem lembrar de coisas que vivi me interpelam a todo momento. Vem a sensação que nunca consegui definir se boa ou ruim, se gostaria ou não de sentir.
É algo que sequer pede permissão para entrar no peito e, quando percebo, já me dominou por completo. Trazem de volta o que um dia acabou, alguém que há muito partiu. Nem sei como isso acontece...
As vezes acho que tudo não é mais que consequência de um clima mais ameno que domina esta época do ano. Dias de chuva me tornam melindroso, me deixam um tanto carente... Junta-se a isso essa atmosfera de fim de ano. As festas e comemorações, mais uma vez, só pioram minhas emoções. Tento lembrar como estava há um ano, em quem pensava, o que planejava. Inevitável nã calcular as perdas e ganhos do ano.
O que me deixa triste, agora, no entanto, é a certeza que há balanço negativo, desde já, este ano. Ganhei muito, é bem verdade: vivi mais intensamente, estou apaixonado por algo que farei por toda minha vida, conquistei o espaço que almejei... Perdi menos vezes, mas nos pontos mais valiosos: perdi amigos, pessoas a que amava, perdi um pouco da força que tinha, da esperança que me impelia.
Porém, de um modo ou de outro, continuo. Incompleto, com o que há de mais nobre em um viver sufocado, procrastinado. Forçadamente esqueço o que doeu nos dias que passaram. Os perfumes, músicas e lugares continuarão a me importunar, sorrateiramente continuarão a me assaltar, trazer um pouquinho da algia sentida de volta. Mas, aí, 'guento, me recolho em recordações, fujo em meus livros, me embalo ao som de um piano.
Depois que passar, nego tudo: nunca sinto saudades de ninguém, mesmo que a falta de um certo você tenha me inspirado a isso escrever.