quarta-feira, 7 de março de 2012

Don't you shiver?!


“But on, and on,
From the moment I wake
To the moment I sleep
I’ll be there by your side
Just to try and stop me
I’ll be waiting in the line
Just to see if you care
Did you what me change?
Well, I've changed for good
And want you to know
That you'll always get your way
I wanted to say
Don’t you shiver?!”


O melhor da dor é o deixar de senti-la. Quando as lembranças que tanto causaram sofrimento já não mais nos desconsertam, aprisionam ou fazem chorar, um ciclo foi concluído, uma página foi virada.
Me dei conta disso agora há pouco, escutando Shiver no caminho da UEPA para casa. Minha memória não é daquelas descritivas, detalhistas como a de uma certa professora hematologista que tenho, a qual sempre lembra dos detalhes das histórias de seus pacientes (detalhes mesmo, como níveis de hemoglobina, valor da creatinina, data da última consulta...). Não sou assim, definitivamente.
Minhas lembranças são desconexas, não seguem um padrão lógico, não estão fixas na temporalidade. As histórias e momentos que tenho na memória estão sempre associados a sentimentos, mesmo que, por vezes, seja o de indiferença.
Já escrevi sobre as recordações em perfumes, fotos, músicas e poesias. Agora percebo que minhas lembranças não estão nas fragrâncias, imagens ou melodias. As notas aromáticas ou musicais, os tons das fotografias e os versos da poesia são, na verdade, uma linguagem, um código que uso para armazenar os momentos importantes vividos.
Soa romântico isso. Talvez seja. O certo é que é perigoso, muito. Por mais que não queira, às vezes, ao escutar uma canção, sentir aquele perfume ou vagar por um álbum abandonado os arquivos mortos, a caixa preta abarrotada de recordações proibidas (e dolorosas) é aberta, revolvida, todo seu conteúdo é exposto. Pelos próximos 15 minutos permaneço atônito, irresponsivo. Isso se a música para logo, o perfume sumir rápido. Cinco minutos exposto a um desses artefatos pode ser fatal – um dia inteiro de melancolia.
Porém, não é disso que falo aqui. Stop crying your heart out, que já havia escutado dezenas de vezes, ontem me fez refletir sobre isso de recomeço, da espera que leva ao novo, da paciência que resulta em convalescença.
“ ‘Cause all of the stars
Are fading away
Just try not to worry
You see them someday
Take what you need
And be on your way
And stop crying your heart out”

Volto a Shiver para concluir. Essa era uma das canções-código de meu arquivo morto. Dolorosa demais, fazia lembrar dos dias passados. Hoje, não mais. Melodia deliciosa, cheia de uma poesia tão meu estilo (um gostar expresso em doação incondicional, que estremece, arrepia). E só!
Não significa que esqueci, que aquilo que causava dor deixou de existir. Não deixa. A lembrança continua lá. O que foi embora, hoje, enquanto dirigia da UEPA para casa, foi a dor. Ferida fechada, ferida sarada. A cicatriz não tem que doer.

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